Por que a solidão dói tanto?
- Cleunice Paez
- 12 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Não nascemos para viver sozinhos. Desde o nascimento, somos totalmente dependentes dos cuidados maternos, onde estabelecemos nosso primeiro vínculo e desenvolvemos nossa segurança com o mundo. Quando esse vínculo é prejudicado, seja por razões de doenças, tempo na UTI, adoção ou por negligência, principalmente materna, nossa segurança em viver fica comprometida.
Não é à toa que, em diversas literaturas, os primeiros meses de vida de um bebê são tão referenciados. Existe uma gama de interferências na construção dos principais sentimentos que a criança desenvolve em sua concepção de mundo e de relações afetivas.
Em geral, bebês e crianças que passaram por dificuldades nos vínculos tornam-se mais suscetíveis a sensações de abandono, podendo ter muito medo de perder pessoas amadas a ponto de sufocá-las com a necessidade de amor ou de ciúmes. Por outro lado, podem se tornar pessoas racionais demais, que não mantêm relações mais estreitas e têm dificuldade no apego. Justamente por não terem aprendido a ser afetivos, não sabem lidar com o que sentem, tornando-se pessoas mais fechadas e isoladas, com dificuldades em se relacionar e ter parceiros amorosos, exatamente pelo medo de se entregar aos sentimentos que não sabem lidar.
Em muitos casos, podem desenvolver síndrome do pânico, a sensação terrível de estar sozinho, uma estranheza ao mundo e até mesmo alguns transtornos ansiosos, de humor ou de personalidade.
Toda essa busca por se sentir seguro em um mundo real traz diversas consequências, e cada um vai desenvolver certo grau de dificuldade no amadurecimento das emoções. Todos esses processos precisam ser trabalhados em terapia, onde a pessoa elabora as situações e aprende a se acolher, lidar com os sentimentos confusos e encontrar as melhores estratégias para lidar com sua criança interior.
Costumo dizer que essa criança é nosso "eu", a internalização de quem somos, nossas vulnerabilidades e defesas que criamos como enfrentamentos e até mesmo nossas auto sabotagens.
Uma das principais auto sabotagens é estar em um relacionamento amoroso e ficar sempre esperando que o outro vá embora. Isso porque carrega sentimentos de não ser merecedor de amor, que tem defeitos inaceitáveis e por acreditar que não tem qualidades suficientes para que seu parceiro permaneça no relacionamento. Com isso, surgem as brigas por ciúmes, por sentimento de impotência de não conseguir se manter em relacionamentos e por viver arrumando justificativas de que “nunca dá certo no amor”.
A pessoa estabelece crenças de que ninguém poderá amá-la ou ficar ao seu lado por muito tempo, que o outro poderá encontrar alguém mais interessante e que, de certa forma, em sua mente, seu parceiro “merece alguém melhor”.
Auto sabotagens incluem todas as formas possíveis de afastar seu amado, confirmando assim pensamentos de que “mereço ficar sozinho”, “ninguém me ama” e “nunca vou arrumar alguém que fique comigo por muito tempo”.
É preciso trabalhar o amor próprio e o sentimento de que é falho ou cheio de defeitos. Somente você pode sustentar esse alicerce de se amar e de conseguir ficar sozinho sem se sentir mal ou angustiado pela solidão.
Estabeleça um vínculo com sua criança interior. Imagine que realmente existe uma criança dentro de você, que é você quando era pequeno, frágil diante do mundo, sem acolhimento, e que muitas vezes se tornou raivosa ou muito ansiosa por não conseguir acalmar esse interior.
Um exercício interessante é se imaginar criança e estabelecer vínculos com seu eu, prometendo que agora você irá cuidar de seu interior e ouvir essa criança para entender quais são suas carências.
Em muitos casos, essa criança internalizada desenvolve compulsões por comida, drogas, bebidas, compras, fobias ou se torna um acumulador, para superar sua angústia e o mal-estar de se sentir sozinho. Por isso, quase sempre, quando você melhora uma compulsão, pode transferi-la para outra forma de compensação.
Por isso, é preciso trabalhar sua mente para aprender as artimanhas que ela usa para se auto sabotar e para enfrentar essas dores emocionais.
O autoconhecimento é a chave para o autocontrole, para o acolhimento desse eu interior e para o amadurecimento das emoções. Entenda como sua mente funciona e quais são as estratégias que ela usa ou que você precisa aprender para ter mais autoconfiança, amor próprio e autocuidado.
Cuidar de sua criança interior é dar uma nova chance de elaborar todos esses sentimentos confusos de angústia, pânico e solidão. Sempre vai existir uma saída para melhorar o enfrentamento, e cada um precisa buscar a forma que mais se adapta para superar suas dores emocionais. Existem diversos tipos de terapias, e você precisa encontrar a forma terapêutica que mais funciona para se cuidar e se amar.
Dê a si mesmo essa oportunidade de amadurecimento, de mudar as coisas que te fizeram estar triste até agora. Você tem essa capacidade, precisa confiar mais em si e acreditar que sempre é possível transformar as coisas e pensamentos, desde que esteja disposto a se dar uma nova chance de melhorar.

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